Romeu Tuma faleceu no conforto do Hospital Sírio-Libanês, como senador da República e com poder político (ainda que declinante), enquanto muitos opositores da ditadura militar, que ele defendeu, amargaram a escuridão das celas e o desaparecimento. Manteve cativa uma legião de fãs, parte dela saudosa de uma época em que a liberdade tinha que prestar continência para poder passar. E plantou sementes que se mantiveram após a redemocratização, pois o Brasil segue vasto em terreno fértil para intolerância.
Respeito o sofrimento de sua família. Mas todos – políticos, jornalistas, cientistas sociais – os que foram críticos a ele em vida não podem se atirar na estúpida condescendência para com os mortos, seja atrás de sua herança eleitoral, seja em nome de uma demagogia barata ou do apaziguamento tupiniquim. Não nos esqueçamos que ele dirigiu o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) durante a ditadura, instituição que moeu gente contrária aos verde-oliva e ao “Ame-o ou Deixe-o” dos anos de chumbo. Isso só para citar um ponto de sua controversa biografia, agora incensada.
Lembrar é fundamental para que não deixemos certas coisas acontecerem novamente. Que a história do delegado/senador seja contada e comentada como ela realmente foi, sem os retoques bonitos dos discursos políticos que começaram a florescer na tarde desta terça.
PS: Ao menos, Tuma era um rosto conhecido, público. Quantos outros delegados de órgãos de repressão da ditadura, sem contar torturadores, seguem anônimos, protegidos pela Lei da Anistia?
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