Esta semana o Brasil acompanhou o mais duradouro cárcere privado envolvendo duas jovens amigas na cidade de Santo André, no estado de São Paulo. Infelizmente o desfecho desse seqüestro não teve o êxito que todos nós esperávamos. As duas adolescentes, Eloá e Nayara, foram baleadas pelo seqüestrador o jovem Lindenberg, que por sinal é natural da cidade de Patos, aqui na Paraíba. A Eloá ferida gravemente com uma bala na cabeça, está em estado gravíssimo. Já a amiga Nayara, foi atingida de raspão no rosto pela bala.
Porém, o que quero comentar neste texto é o fato da grande cobertura do caso pela imprensa. É normal que casos de seqüestros ganhem as manchetes de jornais em todo país, no entanto, a cobertura da imprensa brasileira ganhou uma dimensão de grandes proporções que se tornou um verdadeiro “reality show”, ou seja, um Big Brother da vida real. Talvez pelo fato da grande mídia nacional se concentrar na região da grande São Paulo, com seus aparatos tecnológicos de transmissão, essa cobertura foi tão amplamente divulgada e acompanhada.
Parte dessa imprensa cometeu falhas irreparáveis, do ponto de vista da preservação da vida das adolescentes, como as entrevistas feitas ao vivo com o seqüestrador. Duas das principais emissoras brasileiras cometeram este grande erro. A primeira foi a recém-criada Record News, quando um dos seus jornalistas, dando um “furo” de reportagem, furo este, que de certa forma, segundo os policiais, atrapalhou as negociações, entrevistou o seqüestrador no programa Alerta News. A outra emissora, a Globo, não querendo ficar por baixo, também fez uma entrevista, a qual foi veiculada nos seus jornais.
É incrível a falta de bom senso dessas emissoras numa situação de risco permanente em relação à preservação da vida das adolescentes. Psicólogos, psiquiatras e autoridades policiais que acompanharam o caso, criticaram durante a atitude dessas emissoras, pois o ato de entrevistar o seqüestrador, dando-o “poder” de barganha e de “estrelismo” na mídia, contribuiu para o não cumprimento dos acordos estabelecidos. Acredito que não tenha sido um fator decisivo, mas que atrapalhou as negociações atrapalhou.
Parece que parte da imprensa ainda não aprendeu com os erros cometidos ao longo dos anos. Essa busca desenfreada por audiência não pode colocar em risco vidas de cidadãos e cidadãs. O sensacionalismo não pode ser a marca da imprensa, apesar de estar em “moda”. Diante desses fatos surge a seguinte indagação: Qual o limite da imprensa? O limite da imprensa deve ser o próprio bom senso. Não queremos a censura jamais. Mas a imprensa não é, e não deve ser infalível e onipotente.
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