Nós historiadores aprendemos na faculdade que em cada fato histórico produzido existe versões e versões. Não podemos dizer que essa história é a verdadeira e aquela outra é a falsa. Cada versão é construída para servir a alguma finalidade. Ou como dizem os nossos professores de história, as versões, a história, deve ser desconstruída, os monturos devem ser removidos, as versões cristalizadas pela história oficial devem ser questionadas.
Por exemplo, ainda existem no estado da Paraíba algumas sequelas do caso envolvendo o ex-presidente do estado, João Pessoa, e o então jornalista e advogado paraibano João Dantas. Minha intenção aqui não é trazer a tona o revanchismo não. É apenas mostrar um lado que a história oficial talvez não fale. Primeiro é importante deixar claro que a atitude de João Dantas foi desprezível, não se pode tirar a vida de um ser humano por causa de brigas pessoais. As coisas devem ser resolvidas de outra forma.
Porém, pesquisando sobre o assassinato de João Pessoa acontecido em julho de 1930, percebi que a história que se conta nas escolas paraibanas está faltando detalhes importantes para entendermos melhor o caso. Sempre foi passada uma visão romântica e heróica do episódio. Apesar de o João Dantas ter sido adversário político de João Pessoa, percebe-se que a motivação, se é que podemos utilizar este termo, do assassinato do então presidente da Paraíba, (na época chamava-se presidente e não governador) teria sido além do político. Eis uma versão da história:
Certo dia o João Dantas teve seu escritório invadido por policiais, supostamente a mando de João Pessoa, que estavam em busca de armas, pois João Dantas era acusado de ter participado da famosa Guerra de Princesa, um levante de coronéis da cidade de Princesa Isabel, os quais chegaram a declarar a nossa querida cidade sertaneja independente da Paraíba, por não concordarem com ações políticas adotadas pelo governo estadual. Durante a invasão os policiais acharam algumas cartas íntimas trocadas entre João Dantas e a professora e poetiza paraibana Anaíde Beiriz, e dias depois o conteúdo dessas cartas amorosas foi divulgado pelo jornal A União, de propriedade do governo estadual.
Após o João Dantas ter sido humilhado publicamente através da publicação dessas cartas íntimas que recebeu da professora Anaíde Beiriz, o jornalista foi se vingar de João Pessoa, o qual teria autorizado a publicação das cartas no jornal A União. E depois disso todos os paraibanos sabem o que aconteceu. João Dantas entrou na Confeitaria Glória, no Recife, onde João Pessoa estava, e disparou vários tiros contra o peito do então presidente da Paraíba, que morreu na hora.
O curioso é que João Dantas e o cunhado que o acompanhava, o Moreira Caldas, foram encontrados degolados meses depois, e outros aliados seus também foram assassinados, a exemplo do pai do escritor Ariano Suassuna, o ex-governador da Paraíba João Suassuna. Já a professora que tinha um caso amoroso com João Dantas, a jovem Anaíde Beiriz, foi encontrada morta em Recife, provavelmente envenenada, um suicídio, tinha 25 anos. E assim terminou o trágico episódio que teria começado pelas cartas de João Dantas, que teriam sido divulgadas pelo o outro João, o Pessoa. E aí fica algumas perguntas: Essa foi a causa do estopim da Revolução de 1930 no Brasil? Teria sido apenas uma motivação política? É pra ser pensado!
7 comentários:
Parabés, Miranda pela coragem de publicar essas informações preciosas, haja vista nossos educadores passam uma historia poetica sobre esse fato no nosso estado, talvez não tenham essas informações. acho que todos Paraibanos deveriam assistir o filme "O homem de Areia" que fala da vida de José Americo, relatando fatos politicos do nosso estado, esse filme é dificil de conseguir, mas deveria ser apresentado ao nosso povo e principalmente a classe estudantil. VAL NUNES.
A morte de João Pessoa, como tantos outros epsodios Politicos, não se apresenta para a Sociedade com toda sua veracidade, certamente meu esposo recomendou com sabedoria o Filme Homem de Areia, eu não podia deixar de endoçar sabia recomendação, digo ainda, aos Profesores de História em especial que busque compreender o motivo que Ariano Suassuana resolveu ir embora para Recife, qual a ligação dos fatos, erradicação de Ariano e morte de João Pessoa.
Um abraço,não esqueça assistam
O HOMEM DE AREIA.
Júnior, muito interessante esse texto publicado. Vamos dizer que esse é o outro lado da moeda, se é assim que me compreendes?! É para ser pensado mesmo esse episódio.
Parabéns!
Junior esse assunto de assassinato meche com a curiosidade de todos.
Seria bom que você publicasse uma matéria sobre o assassinato de Lula Firmino. Contando uma história mais completa como você fez no caso do assassinato de João Pessoa. Procure a viuva, consiga várias fotos dele vivo e morto e publique. Outra pessoa que tem fotos dele é Paulo Freire, fale com ele. Muita gente não conhece este assunto. Aproveite que em setembro é o aniversário de morte de Lula Firmino e faça essa homenagem.
Caro amigo(a)anônimo(a), já publiquei no ano passado uma matéria homenageando Lula Firmino e falando sobre o seu assassinato. Quero tb informar que estou em fase de conclusão de um livro sobre os 50 anos de eleições em Belém no qual contarei todos os detalhes do caso, baseado em recortes de jornais da época, além de outras importantes informações sobre a história política da nossa cidade. Estou montando um grande quebra-cabeça de mais de 50 anos de história política de Belém, o qual está espalahdo na memória dos belenenses e em documentos diversos. Espero publicar no final deste ano, ou no começo de 2010. Aguarde!
Com relação à morte de Lula Firmino, o que pouca gente sabe é que João Pedro foi na verdade um bode expiatório em função da sua idade avançada, o que facilitou a absolvição, pra não dizer impunidade.
Os mandantes do assassinato de Lula Firmino se quer sentaram no banco dos réus, ou melhor não apareceram nem no inquérito policial e passaram longe da historia.
Outros membros da família foram na verdade foram os verdadeiros mandantes, e jogaram o pai na fogueira.
Infelizmente algumas pessoas não tem coragem de mexer na historia pela dificuldades de se provar.
Valdes Dantas
João Pessoa, um homem que usava da violência de modo provocativo para alcançar os seus objetivos, uma forma desumana de vencer os princípios e os valores morais. Dantinhas fazia sim uma oposição a ele mas dentro da normalidade! Sem usar de violência. Os ataques mais violentos partiam de Princesa da Parte do Coronel José Pereira que nunca baixou a cabeça para aqueles insolentes. João era um homem de princípios firmes, postura aberta para os adversários e que falava a língua da decência, respeitador, honesto não praticava a violência. Ao contrario de João Pessoa que praticava os maiores desatinos. Ora seu velho pai Dr. Franklin Dantas Correia de Góes mesmo moribundo teve a fazenda invadida, incendiada, nossos velhos em Teixeira apanhavam eram xingados e humilhados pelas volantes comandadas por Ascendino Feitosa, nem nossas velhas tias eram poupadas, eram presas e torturadas dentro da cadeia de Teixeira a meio a gargalhadas e pontapés. Seu irmão Joaquim Dantas foi seqüestrado e preso encontrado 30 dias depois por Duarte Dantas farropilho e torturado, jogado dentro de uma cela na cadeia de Pombal, como dizia meu bisavô Orlando Dantas Correia de Góis tempo infeliz da nossa história. A gota d’água que faltava foi a invasão do seu apartamento na Capital, queimando as escrituras de terras, documentos pessoais , suas fotos expostas na frente da delegacia sendo ridicularizadas por anarquistas. Suas correspondências pessoais trocadas com a namorada Anaíde, eram publicadas em jornais, etc. um ser humano humilhado e insultado é levado aos seu extremo de capacidade de resistir e de suportar. Hoje você não recebe homenagens e nem está sepultado em palácios, mas a Fazenda São Pedro do nosso querido Romero Dantas com sua natureza impecável o acolhe e guarda seus restos mortais com honras e orgulho.
Dantas que Deus tenha acolhido em seu leito de amor, descanse em paz ao lado dos seus celebres amigos Caudas e Suassuna.
João Duarte Dantas, Teixeira 12/06/1888 – Recife 06/10/1930
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