quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Dilma vai ao encontro de Cristina Kirchner

Por Francisco Barreiras

Não há data marcada, mas uma visita a Cristina Kerchner, que acaba de enviuvar é prioridade absoluta no roteiro de viagens intencionais da presidente Dilma Rousseff. Tanto ela como o presidente Lula têm plena consciência de que nenhuma relação brasileira com qualquer outro país é tão estratégica como a que mantemos com a Argentina.

Desde que, há oito anos o Itamaraty elegeu o fortalecimento do MERCOSUL e a integração sul-americana como coluna mestra da diplomacia nacional, a máxima mais ouvida entre os principais dirigentes da Casa é a de que a Europa só conseguiu se unir, depois que França e Alemanha se entenderam, após séculos de sangrentas disputas. Por igual, a União Sul-Americana seria impensável sem uma aliança entre o Brasil e a Argentina.

Em política, o sentimento muitas vezes vale mais que a astúcia e o cálculo. É fácil ver, portanto, que, no momento que Cristina está sinceramente abalada com a morte do marido, a visita de uma presidente vizinha e amiga reforçaria de forma notável a aliança entre os dois países.

Como subprodutos, há que mencionar, em primeiro lugar, que esta visita (está prevista uma homenagem junto ao túmulo de Néstor Kirchner) popularizaria ainda mais Dilma Rousseff entre os argentinos, onde já é bem quista pelo fato de ser mulher e herdeira de Lula.

Em Buenos Aires, Dilma poderá colher (este é o segundo subproduto) a observação útil de que o Casal Kirchner só conseguiu enfrentar de uma só vez a mídia, tão bandida quanto a brasileira e a velha “La Rural”, a poderosa associação de grandes proprietários rurais, porque por lá as esquerdas contam com um poderoso instrumento de mobilização popular, a Juventude Peronista. Esta JP, como é conhecida, além de fiel aos Kirchner, é capaz de levar multidões às ruas. O impressionante funeral do presidente morto foi um exemplo disso.

Cedo ou tarde, Dilma e o PT terão que entender que sem mobilização popular e o reencontro com uma juventude hoje apática e distante, poderá haver algum progresso, mas o social será mais um vez protelado.

E já que estamos na Argentina, vale comentar que Néstor Kirchner, com sua morte, fez politicamente para sua mulher, o que já não estava conseguindo fazer quando vivo. Com a popularidade em queda, o ex-presidente seria certamente candidato à sucessão de Cristina, mas sua vitória era duvidosa. Com sua morte, sua popularidade renasceu de forma tão extraordinária, que a ala kirchneana e majoritária do peronismo já lançou a candidatura de Cristina para a reeleição nas eleições de Outubro do próximo ano. Além disso, “la presidenta” foi beneficiada pelo que os analistas locais dizem ser a solidariedade do “inconsciente coletivo feminino”.

O primeiro a se manifestar a favor da reeleição foi o chanceler Héctor Timerman , há três dias. Horas depois, recebeu apoio discreto de Augostin Rossi, líder da maioria governista no Congresso. Não poderia haver momento mais oportuno para a visita de Dilma a um país que além de vizinho é o nosso principal aliado.

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